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terça-feira, 25 de setembro de 2012

Medo de Juiz

Ariovaldo Ramos

Um colega de Igreja, na periferia de São Paulo, região, então, pobre, nos idos da década de 80, formou-se em Direito, na melhor escola do país, era uma proeza, não eram muitos dos nossos que o logravam. Nós, jovens cristãos protestantes e pobres, minoria entre os despossuídos celebrávamos tal vitória, que, mais que pessoal, era um salto para todos nós.

Não tardou que todos nós, ciosos de nossa fé, nos sentindo guardiães de uma nova realidade que se anunciava, a conversão dos pobres à fé protestante, começássemos a inquirir sobre o nosso papel, uma vez que fazíamos parte de um grupo novo, os pobres, que, carregados por sua fé, começavam a entrar nas melhores universidades para estudar ciência, antes, reservada para a elite econômica oriunda da religião, outrora, oficial.

A formação em direito, mais que qualquer outra, era alvo preferencial dessa aferição entre prática profissional e postura confessional, e me lembro de ter sido o que perguntou ao irmão, em questão, se ele defenderia alguém, mesmo sabendo da culpa deste.

Meu companheiro de fé deu-me uma das respostas mais marcantes que já tive o privilégio de obter, como fruto de uma inquirição. Disse-me ele que, sim, defenderia o suposto réu, mesmo sabendo de sua culpa, porque ele não estava no papel de quem tem de provar a inocência de seu cliente, mas, de quem vigia para que o Estado só puna aquele de quem, da forma mais inconteste possível, consiga comprovar a culpa. Disse-me que entrava no tribunal não pelos culpados, mas, pelos inocentes, de modo a garantir o cumprimento do Estado de Direito.

Naquele dia compreendi que o papel do juiz era garantir que a lei, e só a lei fosse aplicada, respeitados todos os rituais de um processo, onde fosse garantido, de forma ampla e irrestrita, o direito à defesa.

Compreendi que aplicar a justiça, que, no projeto cristão, deve começar com a formulação da lei, tinha, de fato, a ver, sem detrimento à nossa utopia, com a garantia de um processo, onde o direito à defesa fosse amplo e irrestrito, onde a lei fosse o mérito que a todos iguale, e a sua aplicação só se desse mediante a comprovação incontestável da infração da mesma. Em havendo qualquer dúvida o réu deveria ser poupado das injunções inerentes.

Por isso, como cidadão, estou estarrecido com o que se me parece, ao assistir o julgamento, por parte do STF, da ação penal 470, conhecida como "mensalão". A cada manifestação que assisto, dá-me a impressão de que a lição aprendida pelo amigo dos idos de 80, não vale mais. Fico com a nítida sensação de estar assistindo a um desfile da subjetividade, quando o que se espera da corte é a objetividade que dirime qualquer dúvida sobre a quebra da lei. Indícios não bastam, é preciso comprovação.

Estou estarrecido, porque, desde há muito, aprendi com o meu amigo que um tribunal se estabelece por causa dos inocentes, não dos culpados. Um tribunal se estabelece para que se reafirme a nação que se pauta pelo Estado de Direito, onde ninguém, por mais desafeto que seja à opinião pública será condenado, a menos se comprove, de fato, a sua  culpa perante a lei.

Estou com medo de vir a ter medo de pisar num tribunal, por não saber mais o que esperar, diante da possibilidade do subjetivo se impor. Tenho medo de estar a assistir ao retrocesso de uma nação. Da minha nação!©ariovaldoramos

segunda-feira, 7 de maio de 2012



A fábula na floresta


Era uma vez uma grande floresta.

Durante 500 anos, aproximadamente, foi governada por chacais.

Eventualmente, um ou outro cachorro do mato a governava. Comparado aos chacais era um tempo de refrigério.

A floresta passou, também, por períodos marciais. Os felinos, que deviam, apenas, proteger a floresta de inimigos externos, quebraram o pacto que tinham com o restante dos habitantes da floresta, e praticaram a usurpação. A duras penas para todos.

Depois de, aproximadamente, 500 anos de história, foi eleito um joão de barro para presidente.

O joão de barro foi bem e conseguiu eleger o seu sucessor.

Mas, para além da floresta como um todo, havia o setor. A floresta era dividida por setores.

No setor mais rico da floresta, há muito, reinavam os pavões, e era há tanto tempo, que parecia que seria para sempre.

Havia, também , os louva-a-deus.

O grupo louva-a-deus tinha um discurso religioso e ético.

O grupo louva-a-deus, muitas vezes, tentou colocar algum louva-a-deus em posição de influenciar a floresta ou, ao menos, os setores.

Mas, todo louva-a-deus que era posto, numa ou noutra situação, decepcionava o grupo louva-a-deus, que, por definição, pregava a necessidade de praticar a ética no trato de tudo o que era de todos.

Ou se vendiam ao estabelecido, ou usavam as possibilidades para interesses escusos, o que muito envergonhava a comunidade louva-a-deus.

Um dia, no setor dominado pelos pavões, surgiu um jovem louva-a-deus, cheio de fervor e compromisso com a causa louva-a-deus.

Embora ele fosse da mesma agremiação partidária dos pavões, não se portava como eles, parecia, realmente, se importar com os joões de barro. E assim foi por bom tempo. Ele fazia parte do grupo de louva-a-deus, conhecido como o grupo inconformado, um grupo que tinha fome e sede de justiça.

Houve, porém, no mais rico setor, um crime contra a existência, o pavão da vez, que governava o grande setor, destruiu 1600 ninhos de joão de barro, que foram construídos num pinheiro. Foi uma barbárie, uma crueldade! Ele fez isso, quebrando acordos, leis e tratados, para entregar o pinheiro a esses seres abjetos que derrubam árvores para lucro pessoal.

O pavão, entretanto, tinha tanta força, que, apesar do tamanho da barbárie, do crime contra a existência,  ninguém falou nada, o grupo mais antigo de louva-a-deus, na floresta,  que se vestia de preto, nada disse, e o outro grupo de louva-a-deus, que vestia todo o tipo de roupa, das mais sisudas às mais coloridas, com honrosas exceções, também, nada falou, nem mesmo o governo joão de barro disse alguma coisa, e aos tais joões, expulsos de seus ninhos, sobrou a relva da amargura.

Mas, o mais triste para o grupo de louva-a-deus, conhecido como inconformado com toda a injustiça, foi ver o seu jovem e aclamado representante se tornar o aliado maior do pavão criminoso, no lugar onde ele estava para lutar pelo joão de barro.

Porém, movido pela certeza de que a decepção não é forte, o suficiente, para  destruir a esperança, o grupo inconformado tenta se rearticular. O grupo ainda acredita em final feliz.©ariovaldoramos

sábado, 10 de março de 2012

O mundo está mudando!

Ariovaldo Ramos

O mundo está mudando, com esta fala começa um vídeo que assisti, e que fala de um moço dos EUA que está tentando conscientizar o mundo para o que está acontecendo na África central.

De fato, o mundo está mudando e isso me preocupa: até recentemente os países do ocidente norte, lideravam o mundo, e, como esse moço, os norte-ocidentais entenderam que eram responsáveis pelo desenvolvimento ético no planeta. De lá vieram os mais influentes movimentos pela paz e pela preservação do planeta.

Mas, o mundo está mudando, os antigos líderes estão passando por uma crise que, parece, será mais longa do que o esperado; a liderança do mundo, então, está sendo deslocada, para outros países da Ásia: China e Índia; para o Leste Europeu ou Eurásia: Rússia; e para o Ocidente sul: Brasil; e há uma perspectiva sobre uma nação do sul da África: África do Sul.

Isto significa que, a curto prazo, esses países, antes emergentes e, agora, cada vez mais emersos, serão os responsáveis pelo aprimoramento ético do mundo. Destas nações é que deverão surgir os movimentos que clamarão por justiça, por verdade, por democracia, por transformação.

Isso me preocupa! A história desses países ainda não os recomenda para essa tarefa, são nações que ainda não conseguiram resolver o problema da liberdade e do direito a contento, onde, portanto, o povo se expressa pouco ou com muita dificuldade. 

Penso na minha nação, o Brasil, nossa história é uma história de golpes, de capitulações, e de ausência ou manipulação do povo. Quase tudo nesse país foi operado por uma pequena, subdesenvolvida e dominante elite: 
1- nossa independência não contou com o povo, pois foi um acordo entre a coroa portuguesa e o príncipe regente e a elite que o suportava; 
2- a república foi fruto da debandada dos latifundiários escravocratas, da base de sustentação do imperador para a luta republicana, negando, entretanto, toda o aparato republicano de construção de uma nação justa e equânime, a partir da reforma agrária, da educação e do empoderamento do povo. O poder, a terra e a riqueza continuaram concentrados. 
3- nesse curto período de independência e de república, já passamos por duas violentas e sanguinárias ditaduras, em relação às quais, nada fizemos. Para não dizer que o povo não participou de nada, fizemos o movimento das “diretas já”, onde, apesar de não conseguirmos a resposta que, imediatamente, queríamos, conseguimos marcar nosso ponto de vista. E, também, participamos do impeachment de um presidente da república.

De modo, que nossa nação ainda padece de muitos vícios: 
1- somos um país de coronéis, temos um sistema eleitoral proporcional, onde a gente vota em quem mais aparece e não em quem a gente realmente conhece, de modo que perpetuamos a influência do poder econômico, e o coronelismo.
2- temos um poder judiciário de que desconfiamos profundamente.
3- temos um poder legislativo no qual não nos entendemos representados, e, mais, o padrão de representatividade está conspurcado, uma vez que o voto de eleitores de uma determinada região, na prática, vale mais do que o voto de eleitores de outra região. Somos, ademais, muitos votantes, mas, poucos eleitores, porque os eleitores, de fato, são os detentores do poder econômico.
4- temos um poder executivo, onde colocamos toda a nossa esperança, porque, curiosamente, só nos identificamos com o/a presidente da república, na esperança de que essa pessoa resolva todos os nossos problemas e, para tanto, lhe facultamos o uso de qualquer expediente, e lhe perdoamos qualquer falcatrua.
5- nossa igreja é conivente e omissa.

Por isso, o governo do Acre manda atirar no povo; o governo do Rio de Janeiro põe, em prisão de segurança máxima, soldados que não aguentavam mais morrer por um salário de fome; o governo da Bahia, por omissão, permite que o caos se estabeleça na questão da segurança. E o que dizer dos demais governos com o de Minas Gerais e de Brasília, incompetentes e violentos no que tange à demanda por moradia? E da morte dos que lutam pela redistribuição da terra; ou da questão indígena e quilombola? E o que se poderia dizer de todas as falcatruas envolvendo tantos governantes desde sempre? Ou da ineficácia de nossa rede educacional e de proteção social?

Nossa presidente ou presidenta parece ser uma pessoa muito bem intencionada, mas, não parece estar assessorada no mesmo nível, o ministério que cuida da nossa economia, para citar um exemplo, não consegue fazer um projeto de lei decente para preservar os nossos empregos e crescimento real no setor automotivo: as nações, outrora no poder, estão exportando a sua crise, nos forçando a aceitar montagens que prescindem de nossa mão de obra especializada, como a ferramentaria, e esse ministério, quando reage, o faz da forma mais atabalhoada possível. A questão ambiental, outro exemplo, padece de um retrocesso escandaloso. Além disso, ela herdou uma sistema presidencialista e uma constituição parlamentarista, porque nossa Assembleia Constituinte foi golpeada por um plebiscito casuísta. Assim, a presidência tem de negociar o tempo todo com os partidos, o que a levou, entre outros movimentos, a colocar um pretenso evangélico, que nem considera os demais evangélicos como irmãos, num ministério, que, portanto, acaba de sofrer solução de continuidade, com, supõe-se, a ingênua intenção de que agradaria aos evangélicos e conseguiria os seus votos... O que não vai acontecer: não por essa via.

Por isso, o governo do estado de São Paulo, mesmo havendo determinação judiciária federal contrária, desaloja cerca de 6000 pessoas e destrói as suas casas e os bens (muitos) que não conseguiram, no afogadilho, salvar.

Tudo isso é assim porque os que assumem o poder, mesmo em nome de mudanças radicais, acabam se assumindo como “nobres” que tudo podem, pois sabem que ninguém fará nada, porque o ato de um sanciona o ato do outro na mesma voracidade pelo usufruto do poder, ainda que às custas da usurpação do direito. Sabem que os formadores de opinião (religiosos ou não) estão partidarizados e se calarão para proteger os seus correligionários; sabem que essa elite subdesenvolvida domina a mídia, de modo, que somos, de modo geral, desinformados; sabem que uns líderes espirituais, primeiro, ponderarão no que podem perder da fatia de poder, que acessam e influenciam; sabem que outros líderes espirituais estão preocupados em enriquecer, e em desfrutar dos mais sofisticados bens de consumo; sabem que, desde que impeçam o aborto e dificultem a vida dos homossexuais, esses líderes, de ambos os grupos, os deixarão em paz. Porque, afinal de contas, são pobres os que estão sendo escorraçados, eles não contam para quem quer poder ou riqueza, e mais, se eles morrerem melhora o PIB per capita: melhora por genocídio!

E, agora, nós somos uma das nações responsáveis pelo aprimoramento ético do planeta!©ariovaldoramos

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Um Manifesto

Militar não pode fazer greve, "ok", mas, também, não podia fazer golpe de estado!

Greve é um direito! Principalmente, de quem passa fome!

Se não puniram os militares ditadores e torturadores, por que punem os que fazem greve por causa da fome?

Se é para por militar grevista em prisão de segurança máxima, "cadê" os que assassinaram o Herzog?

Se é para punir os militares grevistas, "cadê" a comissão da verdade para punir os que quebraram a ordem constitucional?

Como um governo pressiona com a injustiça e, depois, vem pedir que se mantenha a ordem?

Temos de romper com esses tiranos que promovem o massacre e a injustiça enquanto se travestem de democratas.

Exijamos a democracia, que só combina com a justiça, com distribuição de renda, com reforma agrária, com salários justos e com dignidade humana.

Vamos mostrar com o nosso voto e protesto pacífico, o que pensamos dessa raça de víboras, que massacra aos pobres e depois vem pedir votos.

Deploramos esses governadores que estão acabando com os pobres, quando deveriam acabar com as causas da pobreza.

Irmãos, ao invés de praticar um ateísmo travestido de teologia inerte, que só faz zombar de quem tem fé, rompamos com esses déspotas escondidos em partidos, na prática, neo-fascistas, fingindo ser democratas.

Nós queremos reformas, não queremos um sistema eleitoral que só faz manter a realidade coronelista que vige há 500 anos.

Queremos votar em quem a gente conhece e não em quem mais aparece, catapultado pelo poder econômico.

Queremos uma república de cidadãos, onde cada cidadão seja, de fato, eleitor. Não uma república que esconde uma pretensa nobreza que não tem nem direito, nem lugar.

Queremos educação eficaz e gratuita; queremos saúde pública de qualidade e, em quantidade, não queremos filas, queremos vagas; queremos o fim do trabalho escravo e do escravo do trabalho; queremos justiça e igualdade; queremos políticas afirmativas para as mulheres, para os pobres e para os descendentes dos escravos, até que a justiça corra como um rio que nunca seca.

Queremos acesso à moradia, como direito.

Não queremos governantes que, além de nos desalojarem com se fossemos lixo humano, ainda permitem a especulação imobiliária em nossas cidades, de modo que prédios inteiros, de endividados com o erário público ficam vazios esperando o próximo "boom imobiliário", ao invés de sofrerem desapropriação social, para prover habitação a um sem número de sem-tetos.

Nós queremos reformas, não queremos um congresso de privilegiados que vivem nababescamente às custas do trabalhador, queremos um congresso que nos represente, que viva no padrão da maioria do povo brasileiro.

Queremos transparência, queremos ser quem elenca as prioridades do governo, e quem possui o mandato dos nossos representantes.

Queremos um judiciário de que possamos nos orgulhar, com acesso fácil e gratuito à justiça.

Não queremos juízes pomposos, que se pensam e tentam parecer deuses, a quem só podemos emprestar a nossa desconfiança e medo, assim como a angústia de quem entende jamais poder contar com a justiça, porque esta sói sorrir apenas para os detentores do poder econômico e político.

Queremos uma estado de direito onde a vida humana seja mais importante do que o mero patrimônio.

Queremos um estado de direito onde os crimes econômicos que promovem a miséria, e lesam a nação, sejam apurados com rigor, e onde tais criminosos sejam tratados como tal.

Queremos um sistema penitenciário que corrija o transgressor sem transigir com a sua dignidade.

Queremos acesso à informação, deploramos uma mídia vendida, uma mídia "chapa branca" que nunca investiga, e que, ao invés de ser fator de derrubada de maus políticos, permite que os maus políticos derrubem os bons jornalistas e manipulem a história.

Queremos o fim do monopólio na comunicação. Queremos o fim das redes nacionais. Queremos que, nesse país continente, nossas regionalidades sejam reconhecidas e publicizadas. Não somos gado!

Não queremos um país que tenha os mais glamourosos milionários, queremos um país que eliminou a miséria e a pobreza.


Não queremos apenas um grande PIB - produto interno bruto, queremos uma grande FIB - felicidade interna básica.

A humanidade é responsável por escolher o bem. A divindade está pronta para nos ajudar, mas, não decidirá por nós.©ariovadoramos

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Reagindo ao Massacre


O Bispo Ambrósio, Bispo de Milão, Itália, não deixou o imperador entrar na Igreja, para participar da missa, por oito meses! Porque, entre 388 DC e 390 DC aconteceu, na Grécia, um massacre de enormes e dramáticas proporções.
Teodósio 1, o Grande, era o imperador de Roma. Graças a uma trama política, que não foi orquestrada por ele, mas, que acabou por provocar a morte do imperador do ocidente, Teodósio, que era, originalmente, do oriente, governou um império reunificado. Foi o último imperador romano a ter essa extensão de governo.
Por volta do ano 388 DC, o Gal. Buterico era o chefe da infantaria romana que controlava a cidade de Tessalônica, cidade grega, fundada em 316 AC, que era capital de um dos quatro distritos romanos da Grécia.
Cumprindo um decreto do imperador, o Gal. Buterico mandou por na cadeia um atleta, um auriga, nome dado ao esportista que conduzia bigas, pequenas carruagens individuais, onde o condutor tinha de ficar em pé, puxadas por velozes cavalos, que disputavam corridas nos circos. Os circos eram construções semelhantes ao famoso Coliseu romano, agora, dedicadas aos esportes, e não mais às lutas dos gladiadores, e que faziam parte da vida de muitas cidades do império romano.
O atleta, cujo nome não se sabe, conduzia quadrigas, nome dado às tais carruagens quando puxadas por 4 cavalos, era muito popular; um atleta tão bem sucedido, inclusive do ponto de vista financeiro, quanto os melhores futebolistas da atualidade. A população, quando soube da prisão do atleta, se revoltou, e atacou aos romanos, e, entre outros oficiais da infantaria romana, o Gal. Buterico foi morto.
Ambrósio era o Bispo da cidade de Milão, onde o imperador Teodósio, que frequentava a Igreja, se encontrava. Conhecendo o temperamento do imperador,  Ambrósio o visitou e lhe pediu que, diante do motim, reagisse com misericórdia.                               
Teodósio, no entanto, dando a entender que havia ouvido o conselho do Bispo, fez com que se espalhasse a notícia de que Tessalônica seria perdoada, contudo, organizou a tropa, sedenta de vingança, para que, tão logo a cidade voltasse à normalidade, agisse com rigor.
A cidade, como era de se esperar, aos poucos, foi voltando à normalidade, principalmente, porque tudo dava a entender que a notícia veiculada, ainda que de modo não oficial, era verdadeira. 
Os tessalonicenses, então, retomando o costume e o cultivo da paixão pelas competições esportivas, retornam ao circo, que fora o palco do que acabou por provocar o motim e a morte dos oficiais romanos.
Em determinada ocasião, quando, despreocupadamente, parte considerável da população de Tessalônica se encontrava no circo de esportes, a tropa romana, sob ordens do imperador, cercou o circo e massacrou cerca de 7000 seres humanos. Uma barbárie! Barbárie que ficou conhecida, na história, como o Massacre de Tessalônica.
Tão logo soube disso, o Bispo Ambrósio exigiu que o Imperador se arrependesse publicamente.
Algum tempo, depois de saber da exigência do Bispo, Teodósio resolveu ir ao encontro sagrado, porém, o Bispo Ambrósio saiu à porta da Igreja e impediu o Imperador de entrar para participar do culto, dizendo que ele era um sanguinário, e que se ele não se arrependesse publicamente, não teria mais acesso à missa.
O Imperador resistiu por oito meses, porém, quando se deu conta de que o Bispo não arredaria pé de sua posição, cedeu, e, oito meses depois da intimação do Bispo, o Imperador foi à Igreja vestido como penitente e, publicamente, pediu perdão por seu pecado, pediu perdão por ter ordenado o massacre.
E, embora, o mal não pudesse ser desfeito, a justiça tinha logrado êxito. Ficava, publicamente, claro que ninguém, sob alegação alguma, poderia eximir-se da justiça. Ficava claro que a lei que não serve à justiça, não serve. Ficava claro que o governo que não serve à justiça, não serve.
No dia 22 de janeiro de 2012, em São José dos Campos, São Paulo, Brasil, quase dois mil anos depois do ato do Imperador Teodósio 1, assistimos a um ato de injustiça, a uma barbárie, também, de grandes proporções: 9000 pessoas foram desalojadas de suas moradias e colocadas em situação de rua, e suas casas, nas quais já habitavam a oito anos, foram demolidas. Um massacre que não tirou a vida das vítimas, mas, que desconsiderou o seu direito à dignidade no viver.
Os tempos deveriam ser outros! É tempo de democracia, regime, onde a autoridade maior é o povo. Um regime onde o governo deve ser exercido em nome do povo, e para o benefício do povo.
O motivo alegado para a prática do massacre, foi a reintegração de posse do terreno ocupado por essas 9000 pessoas a, pelo menos, 8 anos. Posse duvidosa, diga-se de passagem, porque este terreno foi propriedade de uma família que não deixou herdeiros, passando a posse do terreno, por justiça, essa, sim, legislada, para o Estado, portanto, para benefício do povo.
Estado que, a exemplo de Teodósio, ludibriou o povo, uma vez que lhe forneceu os serviços básicos de infraestrutura, tais como, água encanada e luz elétrica.
A presença desses serviços do Estado, certamente, deu aos moradores do Pinheirinho, nome pelo qual era conhecido o condomínio residencial, a certeza de que seu direito à moradia havia sido reconhecido, assim como, havia sido corrigido o desvio de posse desse espaço de terra que, de fato, deveria ser utilizado para o benefício do povo.
Engano nada ledo! Um governador redivivo, forneceu as condições para que a injustiça solapasse o direito. E o que durou oito anos acabou em menos e oito horas.
Os moradores estavam negociando, tentando fazer valer o bom senso, já que o mero senso de justiça não foi suficiente! Que nada! As negociações foram desconsideradas! Restaram os gritos, as lágrimas e som áspero da injustiça zombando do direito. Restou a rua para idosos e crianças, para os trabalhadores e as trabalhadoras.
O governador, também, a exemplo do imperador antigo, frequenta a Igreja. O seu ato trouxe para perto de nós uma antiga história. Terá vindo com essa história, a inspiração de Ambrósio? Será que um Bispo haverá, que impeça o governador de assistir à missa, até que, publicamente, admita o seu pecado, e, arrependido, restitua aos lesados o que lhes garante o direito, o que impõe a justiça?
Tomara, como quer Deus, haja, ainda, na Igreja, sacerdotes desta envergadura! Tomara haja, nos frequentadores da Igreja, a firme disposição de não participar desses atos de injustiça, independente de como venham travestidos! Tomara, decidamos, nós, que frequentamos a Igreja, resistir, em nome da consciência, a essa e a qualquer ação similar, que mais parece, como mencionado pelo poeta, fruto de “tenebrosas transações”, que sempre está a serviço da ignomínia.
É bem possível que isso nos gere muito desconforto; que gere muita incompreensão, muita ação disciplinar; que gere muita perda de emprego; que gere muita exoneração; que gere muita perseguição. Mas, de certo, também, há de, finalmente, gerar definição, há de deixar claro onde e em quem o rito é só ritualismo e onde o rito é, de fato, culto. Há, certamente, de gerar caráter, há de recuperar o sentido do ser cristão, há de recuperar o nosso compromisso com a democracia.
Veja o vídeo!

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Pinheirinho: o movimento de uma ditadura?



Seres humanos foram agredidos pelo Estado de São Paulo, em flagrante quebra do pacto federativo. Havia liminar Federal para que a ação policial fosse suspensa, de modo que as negociações tivessem livre curso.

Os agredidos estão, em parte, alojados numa igreja cristã. Isso é uma indignidade. A quebra do pacto federativo levou a força do Estado contra o povo. Ou seja, a polícia foi usada contra a lei, uma vez que o ato da justiça federal foi desrespeitado.

O Estado de Sao Paulo, e o Município de Sao José dos Campos desrespeitaram a lei e atentaram contra a ordem da República Federativa do Brasil, e a barbárie, patrocinada por um Estado, anulou a lei e a ordem; e os seres criados à imagem e semelhança da Trindade foram aviltados e postos frente a possibilidade de vir a viver em situação de rua.

O que está em jogo, de um lado, é o direito humano. E, para além da teoria, fica o caso concreto do abuso e do direito dos prejudicados ao ressarcimento, que, necessariamente, tem de passar pela exigibilidade do direito à moradia. E entendo que o STF deve interpelar o Estado de São Paulo, na pessoa de seu governador, pelo descumprimento da lei. Caso contrário, fica estabelecida a inefetividade da Federação.

Usei como chamada a fala de uma das pessoas alojadas na igreja, e, lamentavelmente, a ação policial é comandada pelo governador do estado, que é do partido que, também, abriga o prefeito, e chamei de ditadura, porque, quando há quebra da ordem constitucional, o que se instala é uma ditadura, por definição. Com o desrespeito ao pacto federativo, estabelece-se uma nova fonte de autoridade que não é mais a constituição, logo, é usurpação, o que consubstancia a ditadura. O que aconteceu é, do ponto de vista institucional, mais grave do que se pode ver num primeiro momento.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

A Democracia é Verde!



Precisamos de um novo modelo agrícola e industrial, se quisermos democratizar a riqueza do Brasil, salvar o nosso povo da intoxicação, e colaborar na salvação do planeta

Muitos tratam a o tema da reforma agrária a partir do preconceito, sem levar em conta a história do desenvolvimento em países como EUA, Europa e Japão; que só alcançaram o desenvolvimento, do ponto de vista da formação de sólido mercado interno, que possuem, porque democratizaram o acesso à terra.

Há algo de muito grave em jogo neste país: o nosso futuro, inclusive, como contribuição para o futuro da humanidade e do planeta.

Jesus disse aos discípulos de Joao, o Batista, quando perguntado sobre se ele era o messias esperado, que dissessem ao profeta que os pobres estavam ouvindo as boas notícias - Mt 11.5

As notícias que Jesus trazia eram boas, porque traziam esperança ao pobre: deles era o Reino de Deus Lc 6.20.

Moisés disse que não haveria pobres se a vontade de Deus fosse observada Dt 15.4,5.

Isaías disse que Deus não admitiria latifúndio no campo, e especulação imobiliária na cidade. Is 5.8.

A notícia da recente riqueza do Brasil, só será boa notícia, quando o for para os pobres.

E a riqueza do Brasil só será boa notícia aos pobres, se houver democratização da terra e um novo modelo agrícola e industrial.

Este vídeo, se você se dispuser e não for vencido pelo preconceito, ou tiver a paciência ou o tempo necessário, lhe dará informações preciosas sobre a questão da democratização da terra.

http://youtu.be/-u3_D-d5sAw