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segunda-feira, 7 de maio de 2012



A fábula na floresta


Era uma vez uma grande floresta.

Durante 500 anos, aproximadamente, foi governada por chacais.

Eventualmente, um ou outro cachorro do mato a governava. Comparado aos chacais era um tempo de refrigério.

A floresta passou, também, por períodos marciais. Os felinos, que deviam, apenas, proteger a floresta de inimigos externos, quebraram o pacto que tinham com o restante dos habitantes da floresta, e praticaram a usurpação. A duras penas para todos.

Depois de, aproximadamente, 500 anos de história, foi eleito um joão de barro para presidente.

O joão de barro foi bem e conseguiu eleger o seu sucessor.

Mas, para além da floresta como um todo, havia o setor. A floresta era dividida por setores.

No setor mais rico da floresta, há muito, reinavam os pavões, e era há tanto tempo, que parecia que seria para sempre.

Havia, também , os louva-a-deus.

O grupo louva-a-deus tinha um discurso religioso e ético.

O grupo louva-a-deus, muitas vezes, tentou colocar algum louva-a-deus em posição de influenciar a floresta ou, ao menos, os setores.

Mas, todo louva-a-deus que era posto, numa ou noutra situação, decepcionava o grupo louva-a-deus, que, por definição, pregava a necessidade de praticar a ética no trato de tudo o que era de todos.

Ou se vendiam ao estabelecido, ou usavam as possibilidades para interesses escusos, o que muito envergonhava a comunidade louva-a-deus.

Um dia, no setor dominado pelos pavões, surgiu um jovem louva-a-deus, cheio de fervor e compromisso com a causa louva-a-deus.

Embora ele fosse da mesma agremiação partidária dos pavões, não se portava como eles, parecia, realmente, se importar com os joões de barro. E assim foi por bom tempo. Ele fazia parte do grupo de louva-a-deus, conhecido como o grupo inconformado, um grupo que tinha fome e sede de justiça.

Houve, porém, no mais rico setor, um crime contra a existência, o pavão da vez, que governava o grande setor, destruiu 1600 ninhos de joão de barro, que foram construídos num pinheiro. Foi uma barbárie, uma crueldade! Ele fez isso, quebrando acordos, leis e tratados, para entregar o pinheiro a esses seres abjetos que derrubam árvores para lucro pessoal.

O pavão, entretanto, tinha tanta força, que, apesar do tamanho da barbárie, do crime contra a existência,  ninguém falou nada, o grupo mais antigo de louva-a-deus, na floresta,  que se vestia de preto, nada disse, e o outro grupo de louva-a-deus, que vestia todo o tipo de roupa, das mais sisudas às mais coloridas, com honrosas exceções, também, nada falou, nem mesmo o governo joão de barro disse alguma coisa, e aos tais joões, expulsos de seus ninhos, sobrou a relva da amargura.

Mas, o mais triste para o grupo de louva-a-deus, conhecido como inconformado com toda a injustiça, foi ver o seu jovem e aclamado representante se tornar o aliado maior do pavão criminoso, no lugar onde ele estava para lutar pelo joão de barro.

Porém, movido pela certeza de que a decepção não é forte, o suficiente, para  destruir a esperança, o grupo inconformado tenta se rearticular. O grupo ainda acredita em final feliz.©ariovaldoramos