Ariovaldo Ramos
O mundo está mudando, com esta fala começa um
vídeo que assisti, e que fala de um moço dos EUA que está tentando
conscientizar o mundo para o que está acontecendo na África central.
De fato, o mundo está mudando e isso me
preocupa: até recentemente os países do ocidente norte, lideravam o mundo, e,
como esse moço, os norte-ocidentais entenderam que eram responsáveis pelo
desenvolvimento ético no planeta. De lá vieram os mais influentes movimentos
pela paz e pela preservação do planeta.
Mas, o mundo está mudando, os antigos líderes
estão passando por uma crise que, parece, será mais longa do que o esperado; a
liderança do mundo, então, está sendo deslocada, para outros países da Ásia:
China e Índia; para o Leste Europeu ou Eurásia: Rússia; e para o Ocidente sul:
Brasil; e há uma perspectiva sobre uma nação do sul da África: África do Sul.
Isto significa que, a curto prazo, esses países,
antes emergentes e, agora, cada vez mais emersos, serão os responsáveis pelo
aprimoramento ético do mundo. Destas nações é que deverão surgir os movimentos
que clamarão por justiça, por verdade, por democracia, por transformação.
Isso me preocupa! A história desses países ainda
não os recomenda para essa tarefa, são nações que ainda não conseguiram
resolver o problema da liberdade e do direito a contento, onde, portanto, o
povo se expressa pouco ou com muita dificuldade.
Penso na minha nação, o Brasil, nossa história é
uma história de golpes, de capitulações, e de ausência ou manipulação do povo.
Quase tudo nesse país foi operado por uma pequena, subdesenvolvida e dominante
elite:
1- nossa independência não contou com o povo,
pois foi um acordo entre a coroa portuguesa e o príncipe regente e a elite que
o suportava;
2- a república foi fruto da debandada dos
latifundiários escravocratas, da base de sustentação do imperador para a luta
republicana, negando, entretanto, toda o aparato republicano de construção de
uma nação justa e equânime, a partir da reforma agrária, da educação e do empoderamento
do povo. O poder, a terra e a riqueza continuaram concentrados.
3- nesse curto período de independência e de
república, já passamos por duas violentas e sanguinárias ditaduras, em relação
às quais, nada fizemos. Para não dizer que o povo não participou de nada,
fizemos o movimento das “diretas já”, onde, apesar de não conseguirmos a
resposta que, imediatamente, queríamos, conseguimos marcar nosso ponto de
vista. E, também, participamos do impeachment de um presidente da república.
De modo, que nossa nação ainda padece de muitos
vícios:
1- somos um país de coronéis, temos um sistema
eleitoral proporcional, onde a gente vota em quem mais aparece e não em quem a
gente realmente conhece, de modo que perpetuamos a influência do poder
econômico, e o coronelismo.
2- temos um poder judiciário de que desconfiamos
profundamente.
3- temos um poder legislativo no qual não nos entendemos
representados, e, mais, o padrão de representatividade está conspurcado, uma
vez que o voto de eleitores de uma determinada região, na prática, vale mais do
que o voto de eleitores de outra região. Somos, ademais, muitos votantes, mas,
poucos eleitores, porque os eleitores, de fato, são os detentores do poder
econômico.
4- temos um poder executivo, onde colocamos toda
a nossa esperança, porque, curiosamente, só nos identificamos com o/a
presidente da república, na esperança de que essa pessoa resolva todos os
nossos problemas e, para tanto, lhe facultamos o uso de qualquer expediente, e
lhe perdoamos qualquer falcatrua.
5- nossa igreja é conivente e omissa.
Por isso, o governo do Acre manda atirar no
povo; o governo do Rio de Janeiro põe, em prisão de segurança máxima, soldados
que não aguentavam mais morrer por um salário de fome; o governo da Bahia, por
omissão, permite que o caos se estabeleça na questão da segurança. E o que
dizer dos demais governos com o de Minas Gerais e de Brasília, incompetentes e
violentos no que tange à demanda por moradia? E da morte dos que lutam pela
redistribuição da terra; ou da questão indígena e quilombola? E o que se
poderia dizer de todas as falcatruas envolvendo tantos governantes desde
sempre? Ou da ineficácia de nossa rede educacional e de proteção social?
Nossa presidente ou presidenta parece ser uma
pessoa muito bem intencionada, mas, não parece estar assessorada no mesmo
nível, o ministério que cuida da nossa economia, para citar um exemplo, não
consegue fazer um projeto de lei decente para preservar os nossos empregos e
crescimento real no setor automotivo: as nações, outrora no poder, estão
exportando a sua crise, nos forçando a aceitar montagens que prescindem de
nossa mão de obra especializada, como a ferramentaria, e esse ministério,
quando reage, o faz da forma mais atabalhoada possível. A questão ambiental,
outro exemplo, padece de um retrocesso escandaloso. Além disso, ela herdou uma
sistema presidencialista e uma constituição parlamentarista, porque nossa
Assembleia Constituinte foi golpeada por um plebiscito casuísta. Assim, a
presidência tem de negociar o tempo todo com os partidos, o que a levou, entre
outros movimentos, a colocar um pretenso evangélico, que nem considera os
demais evangélicos como irmãos, num ministério, que, portanto, acaba de sofrer
solução de continuidade, com, supõe-se, a ingênua intenção de que agradaria aos
evangélicos e conseguiria os seus votos... O que não vai acontecer: não por
essa via.
Por isso, o governo do estado de São Paulo,
mesmo havendo determinação judiciária federal contrária, desaloja cerca de 6000
pessoas e destrói as suas casas e os bens (muitos) que não conseguiram, no
afogadilho, salvar.
Tudo isso é assim porque os que assumem o poder,
mesmo em nome de mudanças radicais, acabam se assumindo como “nobres” que tudo
podem, pois sabem que ninguém fará nada, porque o ato de um sanciona o ato do
outro na mesma voracidade pelo usufruto do poder, ainda que às custas da
usurpação do direito. Sabem que os formadores de opinião (religiosos ou não)
estão partidarizados e se calarão para proteger os seus correligionários; sabem
que essa elite subdesenvolvida domina a mídia, de modo, que somos, de modo
geral, desinformados; sabem que uns líderes espirituais, primeiro, ponderarão
no que podem perder da fatia de poder, que acessam e influenciam; sabem que
outros líderes espirituais estão preocupados em enriquecer, e em desfrutar dos
mais sofisticados bens de consumo; sabem que, desde que impeçam o aborto e
dificultem a vida dos homossexuais, esses líderes, de ambos os grupos, os
deixarão em paz. Porque, afinal de contas, são pobres os que estão sendo escorraçados,
eles não contam para quem quer poder ou riqueza, e mais, se eles morrerem
melhora o PIB per capita: melhora por genocídio!
E, agora, nós somos uma das nações responsáveis
pelo aprimoramento ético do planeta!©ariovaldoramos